Sabrina (na primeira fileira, ao centro) foi uma das voluntárias no evento Technovation HackDay, momento em que compartilhou sua história com as participantes da iniciativa
(crédito da imagem: Marina Maldonado/Estúdio Wfk)
Os olhos azuis vibrantes de Sabrina Tridico miravam para as entranhas do computador desmontado. Nas mãos do irmão, a nova placa de vídeo que precisava ser instalada atiçava a curiosidade da menina de 9 anos. Pouco tempo depois, lá estava ela de novo: agora, sentada em frente ao micro, fuçando o interior invisível da máquina. A meta era fazer daquele computador um caderno em branco: eliminar tudo o que havia sido registrado ali. Nesse processo de formatação, ela seguia, mais uma vez, as orientações do irmão, 15 anos mais velho.
Sabrina, aos quatro anos, no colo do irmão, que já tinha 19, e ao lado da mãe
(crédito da imagem: arquivo pessoal)
Não poderia ser diferente: em breve, Sabrina embarca para os Estados Unidos, onde fará um estágio de três meses em uma empresa de tecnologia chamada Audible, que atua no ramo de livros em áudio. Ela exercerá o papel de engenheira de software em um dos times da empresa que busca soluções para sincronizar as palavras que o leitor ouve por meio do áudio com as palavras que são exibidas em um dispositivo de leitura de livros digitais (ebooks) como o Kindle, por exemplo.
Sabrina foi uma das coordenadoras da Semana de Computação (Semcomp) em 2016
(crédito da imagem: Denise Casatti)
Rumo ao exterior – Como será que Sabrina conseguiu esse estágio almejado por muitos estudantes da área de computação? Tudo começou quando ela se candidatou a uma bolsa, no ano passado, para participar do maior evento do mundo voltado a mulheres na computação, o Grace Hopper Celebration. “Foi a melhor experiência da minha vida e lá eu consegui o estágio”, diz a estudante, que foi uma das 657 mulheres selecionadas para participar do Grace Hopper Celebration, com todas as despesas sendo custeadas pela instituição AnitaB.org.
A experiência de participar do evento junto com mais 18 mil mulheres foi marcante: “Conheci meninas da Rússia, do Quênia, da Índia, e dividi quarto com uma norte-americana que faz faculdade, trabalha, tem uma filha de dois anos e estava lá tentando estágio. Ouvir as histórias dessas mulheres foi muito gratificante. Percebi, ainda, que há algo em comum no percurso da maioria das mulheres que entraram na computação: elas tiveram aliados masculinos”. Sabrina participou de palestras, workshops, minicursos e diversas outras atrações promovidas por empresas convidadas durante o Grace Hopper Celebration, que aconteceu de 2 a 4 de outubro de 2017, em Orlando, na Flórida.
“Foi a melhor experiência da minha vida”, diz Sabrina sobre a participação no Grace Hopper Celebration
(crédito da imagem: arquivo pessoal)
"Eu notei que muitos problemas que a gente tem aqui também existem em outros países e que a nossa educação na USP é muito forte. Estamos em pé de igualdade com qualquer universidade norte-americana”, completa a estudante. “Recomendo muito a participação no evento Grace Hopper Celebration. Poucas brasileiras se inscrevem, acho que é porque não conhecem”. As inscrições no evento são abertas anualmente e mulheres que estejam em qualquer fase da carreira acadêmica podem concorrer a bolsas – alunas de graduação, pós-graduação, pós-doutorandas e professoras. Segundo Sabrina, o processo seletivo é bastante simples: basta enviar o histórico escolar, o currículo e uma carta de recomendação (tudo em inglês) além de responder a um breve questionário.
Grace Hopper foi uma analista de sistemas da marinha dos Estados Unidos e criou a
primeira linguagem de programação de computadores a se aproximar da linguagem humana
(crédito da imagem: arquivo pessoal)
Empoderamento feminino – A trajetória de Sabrina chamou atenção dos organizadores da Campus Party, o maior evento tecnológico do Brasil, que este ano aconteceu de 30 de janeiro a 4 de fevereiro, no Anhembi, em São Paulo. Ao chegar ao local do evento, ela comentou com um amigo que havia participado do Grace Hopper Celebration e que tinha conseguido um estágio no exterior. O amigo, que participava voluntariamente da organização da Campus Party, relatou a história da garota para um dos responsáveis pelas palestras e Sabrina foi convidada para falar ao público em um dos palcos. Lá, ela contou que entregou currículos para diversas empresas durante o Grace Hopper Celebration e que, ao voltar ao Brasil, foi contatada pela Audible. Depois de quatro entrevistas por Skype, foi chamada para estagiar.
Sabrina no palco da Campus Party
(crédito da imagem: arquivo pessoal)
Ainda bem que os obstáculos só serviram para tornar essa garota do interior ainda mais persistente. Se há encanto na computação, com certeza, ele brilha nos olhos de Sabrina.
Outra paixão de Sabrina, além da computação, é a dança: ela faz parte do grupo de dança do Centro Acadêmico Armando de Salles Oliveira (CAASO)
(crédito da imagem: arquivo pessoal)
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